Postado em 20/09/2017
Por George Doi
Recentemente, o Congresso Nacional concluiu a votação do projeto que revisou as metas fiscais - teto de gastos - do governo central, autorizando-o a fechar as contas públicas com déficit primário - quando os gastos são maiores que a arrecadação - de R$ 159 bilhões em 2017 e, também, em 2018. Teoricamente, com a ampliação, o Planalto terá um fôlego maior no caixa para fazer frente às despesas obrigatórias - determinadas pela Constituição ou por Lei - que estão em crescimento, em contraposição às receitas, que ficaram muito abaixo do que era esperado. “Isso pode trazer um alívio no curto prazo, mas não recupera a confiança do mercado na economia”, afirma Roberto Luis Troster, consultor e ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).
De fato, desde 2016, essas despesas têm sido maiores que a receita líquida da União, e a última vez que tivemos um superávit - quando as receitas superaram as despesas - foi em 2013.
“Manter as contas públicas em ordem é um indicador para o mercado, de que o governo tem condições de quitar as suas dívidas. Mas foi justamente o elevado grau de endividamento que tirou o selo de bom pagador do país”, explica o especialista, complementando que o aumento desse rombo traz consequências.
“Nesse cenário, acaba não sobrando dinheiro para fomentar investimentos na economia, nem para garantir os programas sociais vigentes, tampouco amortizar essa dívida.
Então, o governo terá que recorrer a medidas duras e impopulares, como o aumento da carga tributária, e realizar mais cortes de gastos não obrigatórios, de forma a alocar os recursos necessários. Porém, essas providências geralmente acabam agravando o cenário recessivo no curto-prazo”, diz ele.
Para Troster, a questão central é que essa dívida só aumenta, porque o país não está crescendo, e isso está relacionado, em boa parte, à falta de crédito. “A dinâmica do crédito brasileiro é muito ruim: as taxas de concessões médias estão próximas a 100% ao ano, levando os estoques a serem reduzidos a um valor mínimo, o que gera menos produção, menos empregos, menos consumo e, consequentemente, menos arrecadação”, explica ele, dizendo que isso precisa ser mudado. “Facilitando o acesso ao crédito, melhora a situação de solvência das empresas e, com isso, conseguirão produzir mais, contratar mais, ter estoques maiores e pagar mais impostos, levando a economia se movimentar e, assim, fazendo o país voltar a crescer”, conclui o economista.